segunda-feira, 11 de outubro de 2010

HISTORIAS DO FUTEBOL DE MESA

Talvez não exista, no Brasil, uma diversão tão popular quanto o famoso “jogo de botões”! Em todo o país, seja em lugares tão distantes e díspares quanto o Amazonas e o Rio Grande do Sul, por exemplo, não existe um menino (e cada vez mais meninas também) que, nem que seja ao menos uma vez, não tenha experimentado a emoção de comandar ao seu próprio time, ser ao mesmo tempo técnico e jogador, imaginar-se pisando o gramado do Maracanã ou de Wembley, marcando um gol pelo time do seu coração ou erguendo a Taça Jules Rimet, fantasias que somente a magia do futebol de mesa pode proporcionar!
A origem do esporte até hoje é controversa, embora vários estados e pessoas a reivindiquem para si, ela se perde no tempo. O fato é que os jogos começaram a ser disputados nas primeiras décadas do século passado, mais ou menos ao mesmo tempo, em vários lugares diferentes, o que leva a crer até mesmo numa geração espontânea, pois a idéia em si, não é muito difícil de ser imaginada. Também é sabido que as primeiras cidades onde o jogo começou a ser praticado eram todas capitais costeiras, donde é fácil deduzir-se que, provavelmente, num mundo onde ainda não existiam carros e aviões, foram marinheiros os responsáveis pela sua divulgação, assim como ocorreu com o próprio futebol.
Dessa maneira, o jogo chegou até a outros países, como principalmente Argentina, Espanha e Uruguai e, para variar, assim como ocorre em vários estados brasileiros, com isso também os espanhóis passaram a se dizerem os seus inventores.
Nessa época o futebol, embora já estivesse começando a ultrapassar o remo na preferência popular, ainda era um esporte caro e de elite. Sua prática exigia equipamentos importados e os clubes onde era jogado eram fechados às camadas mais pobres da população. Jogar botão era, desse modo, uma maneira barata de se imaginar num cenário inatingível para aquelas crianças de então.
É justamente daí que vem o nome que perdura até hoje... O futebol de botões era jogado, literalmente, com botões de roupas, o que já não acontece mais no Brasil há muitos anos, dado ao avanço tecnológico e a dimensão organizacional que o esporte alcançou, mas que ainda ocorre na Argentina ou na Espanha, por exemplo.
Botões maiores, dos antigos “casacões”, eram rapidamente transformados em pesados “zagueiros”! Botões menores viravam velozes “atacantes” e os pequeninos botões de “ceroulas” ou golas de camisas viravam as “bolas” do jogo! Nos gols improvisados, goleiros de caixas de fósforo, que logo começaram a ser recheados com pedras, barro, chumbo derretido ou qualquer coisa que os tornasse impossíveis de serem derrubados facilmente.
Os campos eram riscados primeiro nas calçadas, onde os botões não deslizavam bem, depois nos pisos de cerâmica ou mármore, bem mais “deslizantes”, mas logo evoluíram e subiram às mesas de jantar, onde logicamente era mais fácil de se jogar do que agachado no chão! Assim surgiram de uma só vez o outro nome pelo qual o esporte é conhecido, futebol de mesa, e o material definitivamente ideal para os campos: a madeira!
Em 1930 o carioca Geraldo Celso Décourt publicou o primeiro livro de regras oficiais. Embora paulistas e paraenses digam o contrário, foi comprovadamente no Rio de Janeiro, então a capital do País, que o futebol de botão começou a se organizar e a tomar forma de esporte. Décourt batizou ao jogo de “Foot-Ball Celotex”. O porque do nome ainda hoje é controverso. Uns dizem que era o nome oficial do tipo de madeira (na verdade um aglomerado) que Décourt usou para confeccionar aos campos. Outros dizem que, na realidade, ele utilizou madeira de engradados conseguidos no porto do Rio de Janeiro e que “Celotex” era simplesmente o nome estampado nestes caixotes, provavelmente o nome da companhia de navegação ou do exportador estrangeiro. De qualquer modo, o fato é que, a partir da publicação das regras, os botões em si também começavam uma curva evolucionária, digna de Darwin.
Até a década de 40, os mais populares ainda eram os botões de roupa que já começavam, porém, a serem “lixados” para conseguirem melhores chutes e deslizamento. Na década de 50, as fichas de pôquer dos cassinos começaram a ser utilizadas, sendo mais tarde substituídas pelas fichas dos antigos “lotações” e ônibus. Muitas começaram a serem coladas em camadas e depois trabalhadas na lixa e polidas, começando assim a surgir a indústria dos botões especificamente preparados para o jogo. Nos anos 60 surgiram as tampas de relógio, também conhecidas por “vidrilhas”. Tinham a vantagem, por serem ocas e transparentes, de se poder pintar ou colar de uma maneira segura e definitiva, escudos, uniformes, nomes e rostos de jogadores, recortados de jornais, revistas ou álbuns de figurinhas. Durante esse tempo todo, outros materiais chegaram a ser utilizados na confecção artesanal dos botões, como a popular casca de coco, o chifre de boi, o baquelite e o plástico, derretido dentro das antigas fôrmas de empadas.
Nos anos 70 o botão já era esporte e a sua fabricação industrializada. Pequenas fábricas produziam os bonitos, mas caros, botões em galalite, enquanto as grandes indústrias de brinquedos fabricavam em larga escala modelos populares de plástico. Por outro lado, os atletas “profissionais” de então adotaram o acrílico, a madrepérola, o craquelê, o paladon ou a mica, materiais utilizados até hoje! Os botões “oficiais” atuais alcançaram, inclusive, um nível de beleza, requinte e sofisticação tal que inclui, até mesmo, escudos metálicos embutidos dentro dos botões, fabricados personalizados e sob encomenda, de acordo com a orientação e as especificações que o freguês desejar.
Por falar nos “profissionais”, no final dos anos 50 e início dos 60 começaram a surgir, primeiro na Bahia, depois no Rio Grande do Sul e logo no restante do país as primeiras “Associações”, clubes destinados exclusivamente à prática do jogo. Na virada dos anos 60 para os 70 começaram as disputas dos Campeonatos Brasileiros e, em 1988, o futebol de mesa foi oficialmente reconhecido como esporte pelo antigo Conselho Nacional de Desportos (CND, órgão substituído atualmente pelo INDESP), através da Resolução N.º 14, de 29 de setembro de 1988, acatando ao Of. N.º 542/88 e ao Processo N.º 23005.000885/87-18, baseado na Lei N.º 6.251, de 8 de outubro de 1975 e no Decreto N.º 80.228, de 25 de agosto de 1977. Assinado pelo então Conselheiro-Presidente Manoel José Gomes Tubino, o histórico texto afirma que considerando que os requisitos técnicos ao reconhecimento (previstos na Lei e Decreto já citados) haviam sido satisfatoriamente atendidos, que a sua prática já era exercida há vários anos e difundida inclusive internacionalmente, que a solicitação havia sido formulada por nove estados e levando em conta o grande número de praticantes, o CND resolvia “reconhecer o futebol de mesa como modalidade desportiva praticada no país, como uma vertente dos esportes de salão”, onde se incluem o xadrez e o bilhar, por exemplo.
Hoje existem 4 grandes regras nacionais, conhecidas popularmente por “Baiana”, “Paulista”, “Carioca” e “Dadinho”, além de inúmeras outras regras chamadas de regionais, como a “Gaúcha” ou a “Maranhense”. A diferença entre cada uma delas é, basicamente, o tamanho das mesas, a duração do jogo, o formato das “bolas” e o número de toques que os botões podem dar. As regras “Baiana” e “Carioca” utilizam-se de 2 tempos de 25 minutos e mesas de 2,20 m x 1,60 m, sendo que na “Baiana” a “bola” é um disco achatado de poliuretano e só é permitido um toque por vez, enquanto na “Carioca” a bola é esférica, de feltro, e são permitidos 3 toques. A duração do jogo nas regras “Paulista” e “Dadinho” é de 2 tempos de 10 minutos e suas mesas possuem 1,87 m x 1,21 m. A “Paulista” utiliza-se da mesma bola esférica que a “Carioca”, porém o número de toques é maior: 12. O “Dadinho” utiliza como “bola” um pequeno cubo plástico e os toques são 8 por vez.
A nível nacional a estrutura é basicamente a mesma do futebol: a Confederação Brasileira de Futebol de Mesa reúne as diversas federações (existem estados onde há mais de uma federação) e a sua presidência é exercida, alternadamente, por representantes das grandes regras que possuem também, cada uma, as suas próprias Vice-Presidências e realizam os seus próprios Campeonatos Brasileiros. As federações reúnem, nos estados, aos clubes e realizam aos seus Campeonatos Estaduais. Nos clubes é onde o esporte é praticado assiduamente, durante toda a semana.
No Rio de Janeiro, A ÚNICA FEDERAÇÃO OFICIALMENTE FILIADA, RECONHECIDA  E AUTORIZADA A FUNCIONAR NO ESTADO PELA CBFM (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE MESA) É A FEBOERJ (Federação Botonista do Estado do Rio de Janeiro), fundada em 1º de Maio de 1988 e que possui como filiados 19 clubes: APROFUME (Piedade Tênis Clube), AFUMIG (Social Ramos Clube), AFUMERJ (Country Club da Tijuca), AALFM (Associação Atlética Light), AAPFM (Associação Atlética Portuguesa), ACFB (Associação Atlética Cabofriense), AFOCERJ (Andaraí), AFOCEN (Niterói), AFUMEC (Academia Aerodinâmica), NBL (Sargentos de Cascadura), Liga Rex (Esporte Clube Maxwell), Oficina do Botão (Barra Garden Shopping Center), Superliga (Pequenos Vascaínos), ASSBOM (Méier), além das associações de Resende, Penedo, Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto e Nova Friburgo, no interior do estado. Seu site, um dos mais completos do esporte, localiza-se em www.feboerj.com.br e os contatos podem ser feitos com Marcelo Coutinho, Vice-Presidente da entidade, através do e-mail marcelo.coutinho@feboerj.com.br.
A FEBOERJ, com o apoio da Prefeitura de Macaé, da Ginastic Equipamentos Esportivos e da Oficina do Botão Esportes Ltda, promoveu de 20 a 22 de setembro de 2002, o 1º CAMPEONATO SUL-AMERICANO DE FUTEBOL DE MESA, reunindo botonistas do Brasil e Argentina, que disputaram a competição na regra do “Dadinho”. De 18 a 20 de abril de 2003, foi a vez do Rio de Janeiro transformar-se na capital internacional do futebol de mesa ao realizar no Clube da Barra da Tijuca da Associação dos Funcionários do BNDES, com o apoio da E-Dablio Software Factory, da Joad Ind. e Com. de Peças de Acrílico, da Oficina do Botão Esportes Ltda e da Ginastic Equipamentos Esportivos, o 1º CAMPEONATO MUNDIAL, também na regra do "Dadinho", que reuniu representantes do Brasil, Argentina, Chile e Espanha.
Uma das mais antigas e conceituadas Federações do esporte, os atletas da FEBOERJ possuem também inúmeros títulos inter-estaduais, entre eles 10 Campeonatos Brasileiros!
E assim, em uma evolução de quase 100 anos, o futebol de botões passou de uma brincadeira de crianças para um esporte altamente organizado e profissional, encarado com extrema seriedade não só no Brasil como em vários outros países, que movimenta consigo uma grande indústria e que, com isso, já começa a sonhar mais alto... O sonho agora é Olímpico! E, depois de tudo o que os seus adeptos já alcançaram, alguém ainda duvida de que isso não seja possível?

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